segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

AUTO DA BARCA DO INFERNO

 A. A época 
1. Idade Média (período histórico que vai do século V ao século XV). 
1.1 Período de grande religiosidade, tudo se subordinava à ideia de que Deus era “a medida de todas as coisas”: teocentrismo. 
1.2 Na vida quotidiana aceitava-se o sofrimento, o trabalho mal pago, a doença e as provações como forma de salvação da alma. As práticas religiosas, não conformes com a Igreja, eram condenadas e as pessoas que as praticavam eram queimadas. Era valorizada a morte em combate pela Fé cristã. A ideia da Morte passou a ser uma obsessão e era representada como um esqueleto que a todos ceifa com a sua foice. 
2. Assiste-se à substituição do latim (língua oficial do Império Romano) pelas diferentes línguas nacionais, de origem latina: português, castelhano, catalão, francês, provençal, italiano, romeno. 
3. Vive-se em constante estado de guerra. 
4. A sociedade está dividida em classes: a nobreza (os senhores ocupavam-se da guerra, da administração das suas terras e com jogos); o clero (membros da Igreja com todo o poder, saber e riqueza); o povo (os servos cultivavam as terras e não tinham quaisquer direitos). 
5. A literatura tem os seguintes traços: lirismo trovadoresco (amor puro, espiritual); teatro de base religiosa (representação de cenas da Bíblia, da vida de Cristo e dos Apóstolos); narrativas de vida de santos, de fábulas moralizadoras ou de cavalaria); alegorias. 
A obra máxima de toda a Idade Média é A Divina Comédia de Dante: representação simbólica da vida após a morte. 
B. Vida e obra de Gil Vicente 
1. Data e local de nascimento incertos (1465? Guimarães?); 
2. Data de morte incerta (entre 1536 e 1540?); 
3. Profissão incerta (Alfaiate? Ourives?); 
4. Casado duas vezes e pai de muitos filhos; 
5. 1502: representação da primeira peça, Monólogo do Vaqueiro, pelo próprio Gil Vicente, para comemorar o nascimento do futuro rei D. João III; 
6. 1517 (?): representação da peça Auto da Barca do Inferno
7. 1536: representação da última peça Floresta de Enganos
8. Entre estas datas escreveu cerca de meia centena de peças; 
9. Teve problemas com a Inquisição que proibiu algumas das suas peças; 
10. Classificação das suas peças: 
- Autos, de inspiração ou motivação religiosa (autos pastoris e moralidades); 
- Autos, de inspiração ou motivação profanas (farsas e comédias). 
11. Considerado o criador do teatro português uma vez que antes dele apenas se faziam representações religiosas. 
12. Gil Vicente retratou, com refinada comicidade, a sociedade portuguesa do século XVI, demonstrando uma grande capacidade de observação ao traçar o perfil das personagens. Crítico severo dos costumes, (de acordo com a máxima "Ridendo castigat mores" – a rir corrigem-se os costumes), Gil Vicente é também um dos mais importantes autores satíricos da língua portuguesa. 
C. Compreender a peça 
1. Temática 
Peça de inspiração religiosa é, sobretudo, uma peça de crítica social. Auto de moralidade, pretende transmitir lições sobre o bem e o mal, as virtudes e os vícios. O seu conteúdo é de natureza alegórica. O assunto é a viagem das almas após a morte e o julgamento que as condena ao Inferno, como castigo, ou as envia para o Paraíso, como prémio. 
2. Cenário 
É muito rudimentar. Há um rio e duas barcas: a do Diabo toda enfeitada porque é festa e a do Anjo muito sóbria e austera. Não há uma história, as personagens desfilam uma a uma. Vão à barca do Diabo, depois à do Anjo e regressam à do Diabo onde embarcam: é o percurso cénico da maioria das personagens. 
3. Personagens 
Duas são alegóricas, o Anjo e o Diabo, as outras são humanas. Trazem adereços (símbolos cénicos) que as identificam. São tipos pois representam os defeitos da classe social a que pertencem, não se representam a si mesmas. 
4. Processos de cómico 
Cómico de situação; Cómico de caráter; Cómico de linguagem. 
5. Linguagem
Português medieval, com muitos arcaísmos; vários níveis de língua, de acordo com a classe social da personagem; vários recursos linguísticos: eufemismos; jogos de palavras/trocadilhos; ironia; repetições

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